Menos carne para os atletas: tinha tudo para dar errado. E deu!
As atividades das Olimpíadas foram encerradas no último domingo (11) e vale pensarmos sobre o legado de desinformação deixado por esta edição dos jogos olímpicos.
Os organizadores das Olimpíadas de 2024 deram início aos jogos com uma oferta menor de proteínas de origem animal nos pratos consumidos por atletas, com mais acesso a alimentos vegetarianos. A justificativa era, de que assim estariam reduzindo — significativamente — as emissões de CO₂ por refeição. Algo idealizado sem embasamento científico e com a clara intenção de responsabilizar a produção de carne por problemas ambientais mundiais. O que se viu, e também foi noticiado pela imprensa mundial, é que poucos dias após a abertura dos jogos foi preciso rever o plano alimentar dos competidores.
Jornais de diferentes países destacaram críticas feitas por desportistas. O ex-atleta e medalhista olímpico australiano James Magnussen, chegou a associar a falta de proteína aos resultados ruins dos atletas: “A falta de recordes mundiais pode ser relacionada com toda essa mentalidade vegan first”. Assim, depois de tantas reclamações de diversas delegações, os organizadores tiveram que mudar os cardápios. Atletas de alto rendimento, que possuem treinos intensos e desgastantes, exigiram uma maior demanda por carnes e ovos, e a organização do evento foi obrigada a ajustar as refeições, aumentando a “toque de caixa” a oferta de proteína animal.
Cortar a carne dos atletas foi um erro de estratégia sem alicerce em informações verdadeiras. A carne bovina, um alimento que contribui com a força e a resistência corporal, foi envolvida em diversas discussões, muitas vezes polarizadas e baseadas em dados incompletos ou distorcidos. É preciso desmistificar a ideia de que a carne bovina é vilã para a saúde humana e para o meio ambiente.
O professor e coordenador de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), doutor Daniel Vargas, trouxe recentemente ao público, a informação sobre estudos que mostram a importância do boi para o meio ambiente. Cientificamente, o estudioso associou a produção pecuária a benefícios para o clima. O especialista destacou o trabalho produzido por Myles Allen, renomado cientista climático com pesquisas sobre a emissão de metano. As análises indicam que o boi pode ser a solução ambiental e não o problema. A indicação é de que o animal funcionaria no ambiente como uma espécie de filtro e atuaria no sentido de provocar o resfriamento da atmosfera. No seu artigo, Vargas relata ainda que o aumento na produtividade da pecuária tem efeito equivalente ao cultivo de mais áreas de florestas e os produtores brasileiros deveriam ganhar créditos por isso.
Ainda em relação ao meio ambiente, no contexto mundial, dados do Our World In Data (2022) demonstram que corresponde a 10,4% o percentual da emissão de gás carbônico (CO₂) na categoria normalmente associada ao desflorestamento e alteração do uso da terra, em que a pecuária pode estar contida, ou não! E quando falamos em emissões de CO₂, o Brasil ocupa a sexta posição mundial, uma participação que é vista como muito baixa em dados percentuais. Sendo importante produtor e fornecedor de carnes para o mundo, vale destacar que as emissões brasileiras representam apenas 3,9% das emissões globais. Ou seja, o problema não está na pecuária bovina!
É errado associar a redução de consumo de carne bovina com a redução do desmatamento e/ou com os eventos climáticos adversos que hoje o planeta tem enfrentado. A complexidade desses problemas ambientais envolve uma série de fatores interligados, como o crescimento populacional, o modelo de desenvolvimento econômico, uso dos combustíveis fósseis ou energias não renováveis e a falta de políticas públicas. Além disso, destacam-se outros indicadores trazidos por dados da Embrapa, em que 12,2% das florestas mundiais estão no Brasil, sendo que 66% do território nacional estão cobertos com vegetação protegida e preservada.
Mato Grosso é o principal estado produtor e exportador de carne bovina e realiza esse feito de forma sustentável e com qualidade, já que 62,5% do seu território estão destinados à conservação da vegetação nativa. Dentro deste percentual, mais de um terço corresponde a áreas de reserva legal, que estão localizadas em propriedades rurais. Ou seja, são milhões de hectares de área verde, com fauna, flora e recursos hídricos, que estão cuidados e sob responsabilidade de quem produz!
Quanto às Olimpíadas, foram pouco mais de duas semanas de duração e cerca de 10.500 atletas competindo em 48 modalidades. O evento demonstrou que a França não tem uma preocupação real sobre o clima ou ambiente. A redução de carne pretendida pelos franceses — nos pratos dos atletas — poderia representar pouco mais de 210 bovinos adultos. Uma quantidade insignificante para ser associada a qualquer mensagem de preservação ambiental ou redução de gases de efeito estufa.
Nota-se, que foi apenas uma tentativa de impor a imagem para o mundo, de que a França é um país promotor de melhorias ambientais. A despoluição do Rio Sena traria maior contribuição ao meio ambiente e para saúde pública, que qualquer dieta restritiva sem fundamentos!
*Caio Penido é empresário e produtor rural na região do Vale do Araguaia, em Mato Grosso, e presidente do IMAC (Instituto Mato-grossense da Carne). Foi o mentor da Liga do Araguaia, movimento que nasceu em 2015 visando a adoção de práticas sustentáveis e que em 2021 se tornou o Instituto Agroambiental Araguaia.
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