Vinte e um moradores de diversas comunidades de Poconé-MT se reuniram para participar da Oficina de Construção de Cisterna, oferecida pelo Polo Socioambiental Sesc Pantanal em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A ação faz parte do trabalho socioambiental da instituição e possibilita a autonomia das famílias durante o período de seca, além de promover a sustentabilidade, saúde pública e desenvolvimento econômico e social.
“O nosso objetivo é fazer um trabalho coletivo, com troca e diálogo, para construir uma cisterna conforme a necessidade da comunidade que vive as dificuldades da falta de água. O Sesc Pantanal tem sempre o propósito de facilitar, estimular e ser ponte para levar boas práticas, além de contribuir para o desenvolvimento das comunidades pantaneiras”, destacou a gerente-geral do Sesc Pantanal, Cristina Cuiabália.
Com capacidade de 17 mil litros d’água, o reservatório pode abastecer a uma família de quatro pessoas por até 40 dias de estiagem, considerando as necessidades básicas. A cisterna foi construída na sede da Associação dos Produtores Rurais do Capão de Angico (Apruca), que possui banheiros, cozinha, salas de artesanato e o viveiro da iniciativa Aquarela Pantanal.
Foram seis dias de trabalho para construir o reservatório d’água na comunidade pantaneira, que contou com o apoio de alunos voluntários do Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos da UFMT, liderado pelo doutor e pesquisador Ibraim Fantin da Cruz. Ele aponta as mudanças que a natureza tem passado nos últimos tempos e como o pantaneiro tem percebido a falta de água para o consumo nas atividades rotineiras.
“A escassez hídrica é cada vez mais frequente e a gente precisa se adaptar. O que trouxemos aqui é uma alternativa para enfrentar essa situação, que servirá não apenas para esse ano, mas os próximos que virão. A universidade tem esse conhecimento que pode contribuir com a vida das pessoas e o Sesc Pantanal teve um papel muito importante ao fazer a conexão entre o conhecimento da universidade e as demandas sociais. Estamos aqui para dar autonomia a comunidade para que o conhecimento seja repassado”, ressalta Ibraim.
Os participantes da oficina puderam aprender tudo sobre a construção de cisternas de ferro/cimento (estrutura cilíndrica, coberta com placas de concreto) para armazenamento da água, incluindo sistema de captação de água de chuva. Por ser de fácil construção e de custo acessível, ampliando o acesso à água de qualidade, a cisterna de ferro/cimento é uma tecnologia social, implementada com êxito em diversas regiões do país que enfrentam a escassez de água.
Durante os dias de trabalho, a oficina proporcionou também diálogos e trocas de experiências sobre a construção da cisterna. Para a dona de casa, Miriam Muniz de Oliveira, de 29 anos, a experiência foi produtiva e se tornará um legado para toda a comunidade.
“Pude aprender e ajudar a comunidade, que precisava muito de um reservatório de água. Nós colocamos a mão na massa e o projeto saiu do papel. Eu vou usar tudo o que aprendi aqui para passar adiante e colocar em prática na comunidade, mostrar para as pessoas a importância de construir uma cisterna, por aqui onde a gente vive tem muita falta de água, e na seca a gente sofre bastante sem água para o viveiro, nossas plantações, nossos animais. Foi uma experiência ótima”, completa Miriam.
Uma cartilha deve ser criada pela organização da iniciativa, com as informações dos materiais, orientações e as etapas do processo, para instruir a construção da cisterna aos moradores da região, e o conhecimento compartilhado poderá ser replicado em outras comunidades.
Além dos moradores do Capão de Angico, também participaram da Comunidade Terapêutica Fazenda Esperança, comunidade rural do Jejum e comunidades do entorno da Comunidade Quilombola - Nossa Senhora Aparecida do Chumbo.
“Águas Pantaneiras: retratos para o futuro”
O Pantanal é uma das maiores áreas alagáveis do mundo, de grande importância para a sobrevivência e manutenção de todos os tipos de vida. O ritmo das águas, com períodos de cheia (janeiro a março) e seca (junho a setembro) bem marcados, tem mudado nos últimos anos. Apontado como um dos mais secos da história, 2024 já deixa o alerta para outra ameaça cada vez mais presente no bioma: o incêndio florestal e os impactos para o ser humano, a fauna e a flora.
Para debater os desafios e soluções diante deste cenário, Sesc Pantanal, iniciativa do Sistema CNC-Sesc-Senac, realizou diversas ações, entre elas a construção da cisterna e a mesa redonda 'Diálogos: as mudanças no ritmo das águas pantaneiras', que reuniu representantes da UFMT, ribeirinhos, estudantes e a sociedade em geral.
Mín. 18° Máx. 30°